(Foto: Jornal Folha da Cidade)
Relatório também lembra as
mortes dos policiais Bruno Buhler,André Frias e do delegado Fábio Monteiro
Porte irregular de arma de fogo, organização criminosa,
roubo, furto, corrupção de menores, tráfico de drogas e receptação são delitos cometidos
pelos mortos no Jacarezinho. Na última quinta-feira (6) a Polícia Civil do
Estado do Rio de Janeiro, realizou a Operação Exceptions, no Jacarezinho, para cumprimento
de 21 mandados de prisão expedidos pelo Juízo da 19ª Vara Criminal do Tribunal
de Justiça do Rio de Janeiro. Ao todo, 28 pessoas morreram durante a operação,
sendo um policial. Mais de 20 armas de fogo, entre pistolas e fuzis, foram
apreendidas.
O Jornal A Folha da Cidade teve acesso às informações acerca do
desdobramento e resultados da ação policial, além das fichas criminais dos
indivíduos mortos durante o confronto. De acordo com as informações obtidas, a região do
Jacarezinho é considerada um dos quartéis-generais da facção Comando Vermelho (“CV”)
na Zona Norte da cidade do Rio. Diante da dificuldade de acesso ao local, com
barricadas e táticas de guerrilha realizadas pelos marginais, a área abrigaria
uma quantidade relevante de armamento, os quais seriam utilizados nas retomadas
de favelas perdidas para facções rivais ou a fim de se reforçar contra
possíveis investidas policiais.
O avanço do crime organizado ficou mais evidenciado, segundo
as investigações, após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que proibiu
a realização de operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro durante a
pandemia do Covid-19, salvo em situações absolutamente excepcionais.
A operação da última semana foi fruto de uma investigação
iniciada após apreensão de fotografias de traficantes por Policiais Militares
da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Jacarezinho. Pelas imagens, agentes
reconheceram três integrantes do CV, sendo Marcos Vinicius Pereira Messias (Fautinha),
Richard Gabriel da Silva Pereira (Kako) e Fabio Sergio Teixeira Rodrigues dos
Santos (FB da Vasco).
O Setor de Busca Eletrônica da Delegacia de Proteção à
Criança e ao Adolescente (DPCA) analisou diversos perfis das redes sociais
Twitter, Facebook e Instagram, todos vinculados ao tráfico de drogas da região.
Como resultado, a DPCA listou em relatório os criminosos
identificados, bem como as suas condutas típicas praticadas. Atualmente, a
liderança da favela do Jacarezinho é o traficante Adriano de Souza Freitas
(“Chico Bento” ou “Mãozinha”). Com quatro mandados de prisão expedidos, Adriano
tem passagem no sistema penitenciário por homicídio qualificado, tráfico de
drogas, associação para o tráfico e roubo. Felipe Ferreira Manoel (“Fred do
Jacarezinho”) divide com Adriano a liderança; sua ficha tem anotações por homicídio
qualificado, tráfico e drogas, associação para o tráfico e roubo.
Ambos estão foragidos.
REDES SOCIAIS
O Jornal A Folha da Cidade obteve informações sobre a
investigação nas redes sociais. No dia 8 de julho de 2020, Renan Vicente da Silva
(“Nanzin”), um dos alvos da Operação Exceptions, postou uma foto portando fuzil
e escreve: “Praça Seca lacrado”.
No dia 16 de julho de 2020, “Nanzin” publicou foto vestindo colete,
usando máscara de esqui portando um rádio transmissor, e escreve: “Se a guerra
rola, a tropa avança”. Em 15 de junho de 2020, Raian de Oliveira Lopes (“Nego Velho”),
outro alvo da Operação, postou um tweet dizendo que quem usa farda é seu inimigo,
publicando uma foto portando fuzil. Já em 14 de agosto do ano passado, Guth
Miller Baiano Ribeiro, “Gu da Vasco”, também alvo da especializada, postou uma
foto, na qual aparece com um fuzil, sobre a inscrição “Jacaré melhor gestão”, que
indicaria relevante nível de adesão aos comandos hierárquicos.
Confira os nomes dos indiciados no respectivo inquérito policial:
Richard Gabriel da Silva Ferreira; Fábio Sérgio Teixeira Rodrigues dos Santos;
Marcos Vinicius Pereira Messias; Patrick Marcelo da Silva Francisco; Anderson
Fernandes Soares; Raian de Oliveira Lopes; Guth Miller Baiano Ribeiro; Rafael
da Silva; Rômulo Oliveira Lucio; Arthur Cardoso Barbedo Martins; Moisés Pereira
dos Santos; Ricardson Antonio da Silva; Guilherme Silva Patrocínio; Débora Rocha do
Paraízo Mendes; Patrick de Andrade da Silva; Jean Peixoto Felix; Gustavo
Vinícius Teixeira de Araújo; Mauricio Ferreira da Silva; Diogo Miguel Barbosa Figueira;
João Victor Trindade Neves; Isaac Pinheiro de Oliveira; Renan Agrassar
Pinheiro; e Renan Vicente da Silva.
POLICIAIS MORTOS
A investigação do
setor policial também trouxe histórico de agentes mortos na comunidade.
Em 11 de agosto de 2017, o Inspetor de Polícia, Bruno Guimarães
Buhler, Xingu, foi executado por um integrante da organização criminosa que
domina a região. Em 12 de janeiro de 2018, menos de 5 meses após o homicídio do
inspetor Bruno, foi a vez do delegado Fábio Monteiro ser executado, depois de
identificado como policial, quando passava com seu automóvel numa rua na entrada
da comunidade, em horário de almoço, em dia de trabalho na Cidade da Polícia.
Já durante a Exceptions, por volta das 6h, policiais lotados
na Delegacia de Combate às Drogas, a bordo de veículo blindado, foram em
direção à comunidade, para estabelecer posição estratégica e dar suporte a
outros agentes para o cumprimento dos mandados judiciais. Porém, diante de barricadas
de aço e concreto, os agentes precisaram desembarcar, e partiram em progressão
gradual, precariamente abrigada e sob muitos disparos de armas longas.
Foi nesse momento, que o inspetor André Leonardo de Mello Frias
foi atingido na cabeça, caindo ao chão. Segundo as autoridades, mesmo depois de
alvejar André, os marginais não pararam de disparar na direção do inspetor. Na
mesma operação, o policial Marcelo Fagundes foi ferido por bala em um dos
braços.
Armas apreendidas pela Policia
Um arsenal a serviço do crime e que comprova o
potencial bélico dos bandidos
Durante a operação, os agentes apreenderam diversas armas que
estavam com os mortos e detidos, inclusive materiais explosivos de alta
destruição. Confira a seguir a indicação das armas de uso restrito apreendidas:
1 pistola Taurus – calibre 9mm – número de série: TTH59717
1 pistola Bersa – calibre 9 mm - número de série:
E87380;
1 pistola Glock Calibre 40 – Sem identificação;
1 pistola Hafdasa Calibre 22 Liong – Sem numeração;
1 pistola Glock Calibre 40 – sem numeração. Obs. Gen 4 camuflada
com kit rajada;
1 pistola Taurus – calibre 9mm – sem número de série;
1 pistola Glock calibre 9mm – sem n. de série;
1 pistola Glock calibre 9mm – sem numeração;
1 pistola Taurus PT57S calibre 765mm – sem numeração;
1 pistola Ithaca calibre 45 – sem número de série;
1 pistola Glock calibre 9mm– número de série: indeterminada;
1 pistola Glock calibre 9mm– número de série: indeterminado;
1 pistola Taurus – calibre 9mm de cor prateada – número de
série: indeterminado;
1 pistola Glock 17 com kit rajada – calibre 9mm – número de
série: indeterminado;
1 pistola Glock 17 com kit rajada – calibre 9mm – número de
série: indeterminado;
1 pistola Bersa calibre 9 mm - número de série: indeterminado.
1 submetralhadora – calibre 9mm – sem marca e número de
série;
1 fuzil calibre 762 mm – Parafal – sem identificação;
1 fuzil – cal. 556mm;
1 fuzil – cal. 556mm;
1 espingarda – calibre 12;
1 espingarda semiautomática calibre 12 – de origem russa;
1 fuzil calibre indeterminado – número de série:
indeterminado;
1 fuzil – calibre 556mm – número de série indeterminado.
LUTO NO CV
Dados obtidos pelo setor policial apontaram que lideranças
da facção criminosa, em demonstração de luto pela morte de traficantes da
comunidade em decorrência de operação policial, teriam determinado o fechamento
do comércio na sexta-feira (7), bem como a suspensão de bailes nas comunidades
onde exercem influência. Além disso, lideranças do Comando Vermelho teriam
ordenado a seus comparsas que não publicassem em redes sociais postagens mencionando a
intenção de matar policiais em represália às mortes dos criminosos.