As
entregas da Covaxin seriam feitas em cinco lotes, com 4 milhões de doses cada.
A "invoice" se referia a 300 mil frascos com 5 ml da vacina cada, o
que equivale a 10 doses (a dose da Covaxin para cada ser humano é de 0,5 ml, de
acordo com a Anvisa) - ou seja, eram frascos
multidoses, a custo unitário de US$ 150,00. Ricardo Miranda, bem
como os senadores da cpi do circo, diziam que eram 300 mil doses. Mas o total, na realidade, era de
3 milhões de doses que, a US$ 15 cada, totalizaram os US$ 45 milhões do documento.
Mais adiante, na sessão, o senador Marcos Rogério viria a destacar esse fato.
Portanto, NÃO havia o tão
falado "superfaturamento": o preço contratado era de US$ 15 a dose, isso estava
correto! Contudo, Ricardo Miranda apontou outros detalhes, como pagamento
antecipado, validade das vacinas, frete e seguro. Mas, principalmente, disse
que estava sofrendo "pressão anormal" para fechar esse contrato, da
parte de todos. Esse foi o ponto que causou mais problemas, no correr da
sessão. Apontou dois superiores, e juntou print de conversa em relação a um, o
Coronel Pires. Por si só, entretanto, uma única mensagem genérica como essa não
parece indicar "pressão atípica".
A primeira
"invoice" foi expedida pelo intermediário-exportador no dia 19 de
março. Seguiram-se várias conversas entre Ricardo Miranda e seu irmão deputado,
Luís Miranda, cujos prints também foram levados à CPI. Neles, Ricardo
"denunciava" ao irmão a "pressão atípica". As conversas têm
um caráter até constrangedor, parecendo uma conspiração, tanto que em dado
momento, houve um diálogo cômico entre Renan e Ricardo Miranda:
- Eu quero saber quem são
os responsáveis, para pagarem por seus crimes! Quem é esse em diálogo com o
senhor? - perguntou Renan.
- Meu irmão. - Respondeu
Ricardo Miranda.
Renan ficou desnorteado.
No dia 20 de março, Luís e
Ricardo Miranda encontraram-se com Bolsonaro. Nessa ocasião, segundo o deputado
Luís Miranda, Bolsonaro teria acusado um "parlamentar" e teria dito
que encaminharia o caso ao DG da Polícia Federal.
Após isso, as
"invoices" foram corrigidas pela empresa intermediária, em duas
mensagens, ambas no dia 23 de março, atendendo ao que Ricardo Miranda queria.
Ricardo Miranda começou a
titubear nas respostas, e seu irmão, de forma ilegal e inoportuna,
"assumiu" o depoimento. Ficou patente que a responsabilidade sobre o
contrato, a assinatura, era de Ricardo Miranda. Sem qualquer constrangimento,
Luís Miranda começou a responder todas as perguntas no lugar do irmão, que foi
ao banheiro. Uma bagunça! Luís Miranda falou que "estavam roubando"
no Ministério da Saúde, que um "parlamentar" havia ameaçado o
ministro Pazuello e outras barbaridades.
Nessa altura do campeonato,
Aziz também apontou os prints, perguntando quem era na conversa, e Luís disse
que era o irmão Ricardo. Renan e Aziz ficaram nervosos, e começaram a acusar o
deputado e seu irmão.
A partir daí, Ricardo
Miranda começou a dar respostas negativas, ou alegar desconhecimento: deixou de
"colaborar". A sessão era interrompida por gritarias a todo momento.
Renan terminou as perguntas ao servidor, e começou a fazê-las ao deputado - que
já estava "depondo", na prática.
Foi um teatro e tanto! Luís
Miranda quase chorou, falava com a voz embargada, e dizia que "não
lembrava do parlamentar" citado pelo Presidente, disse que "não tinha
que estar ali", e outros lamentos. Perguntado se tinha prova disso, como
uma gravação, respondeu: "não tenho o hábito de gravar
presidentes".
Renan terminou suas
perguntas, e começou a falar o senador Marcos Rogério. A tensão, que era alta,
subiu ainda mais. As gritarias ficaram mais intensas, acusações de lado a lado,
e em dado momento, Aziz apontou o dedo para o deputado Luís Miranda e disse:
"Quem fez a acusação leviana foi o deputado Luís Miranda!". Este
soltou um palavrão.
Os bate-bocas foram muitos
e bem altos. Enquanto isso, o servidor Ricardo Miranda estava escangalhado,
cabisbaixo e preocupado.
Aziz suspendeu a sessão.
Esse intervalo foi crucial, porque os discursos, que até então eram
desencontrados, se ajustaram no retorno dos senadores e dos depoentes. Luís
Miranda começou a ficar à vontade. Depois de vários senadores, veio então
Alessandro Vieira, que insistiu em perguntar quem era o "parlamentar"
citado por Bolsonaro. Luís Miranda disse que era deputado, e da base
governista. Isso fez a oposição explodir na sessão, como hienas que comemoravam
uma bela carcaça. E Alessandro Vieira acusou Ricardo Barros, líder do Governo
na Câmara.
Então veio a senadora
Simone Tebet. À ela, Luís Miranda confirmou que o "parlamentar"
citado era o deputado Ricardo Barros e ainda acusou o Presidente de não ter
agido diante da "denúncia" dele (o que seria prevaricação). Chorou e
fez um discurso de "patriota"...
Tebet
então fez um longo e emocionado discurso, contra o Governo.
Renan perguntou ao servidor
Ricardo Miranda sobre a citação a Ricardo Barros. Este respondeu que não ouviu o nome do deputado na
reunião com o Presidente, pois não estaria na sala. Ou seja, Luís Miranda
acusou, agora lhe cabe o ônus de provar.
Mas todos os senadores da
oposição estavam exultantes. Randolfe disse até que estavam "com o roteiro
pronto". E o esclareceu, na coletiva de imprensa após o fim da sessão:
querem acusar o Presidente de prevaricação, diante do STF, citando o artigo 86
da Constituição, que trata do impeachment.
E explico o artigo. O
impeachment perante o STF não tem precedente. Em casos de crimes de
responsabilidade, o impeachment do Presidente é julgado perante o Senado. Em
caso de crimes comuns, é julgado pelo STF! Mas em ambos os casos é preciso
autorização da Câmara.
Na mesma coletiva, Renan
falou de "corrupção", o que achei cômico, pediu "ajuda da
imprensa", citou Queiroz e disse "esse é o tipo de gente com quem
estamos lidando". Vindo de quem vem, é uma afirmação paradoxal!
Não importa que não haja
provas. Não importa que não haja o "superfaturamento". Não importa
que a "testemunha" não seja idônea. Eles conseguiram uma narrativa
contra a mulher de César. Vão explorar isso até o talo, usando o máximo de
tempo possível, ouvindo um caminhão de gente, chamando todo mundo, quebrando
sigilos telefônicos, telemáticos e bancários a torto e a direito. Sentem-se
"vitoriosos" e "justificados".
O plano sempre foi esse.
Peço permissão para mostrar uma postagem minha de 6 de maio.
A resposta do Planalto tem
que forte e certeira. Nesse momento, o Governo Bolsonaro está, inegavelmente,
sob o mais forte ataque da oposição desde que se iniciou. Nem querem o
impeachment agora. Querem o poder, e querem que o Governo sangre lentamente. Como
um ataque ao "fegatello"...