Brasil Publicada em 04/08/23 às 15:24h - 4795 visualizações
O inquérito militar aponta culpa do governo Lula no 8/1
Jornal Folha da Cidade
Link da Not�cia:
(Foto: CNN Brasil)
O
inquérito policial militar aberto para investigar os militares que deveriam ter
protegido o Palácio do Planalto diante dos ataques golpistas de 8 de janeiro
livrou as tropas de culpa e apontou "indícios de responsabilidade" da
Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial, que integra a pasta do GSI
(Gabinete de Segurança Institucional).
A
apuração concluiu que, se houvesse tido planejamento "adequado" no
início do governo do presidente Lula (PT), seria possível ter evitado a invasão
do palácio ou minimizado os estragos.
O
relatório sigiloso, obtido pela Folha, foi finalizado em 2 de março e recebeu
uma complementação no dia 14 daquele mês.
A
investigação indica a responsabilidade da secretaria do GSI de forma genérica,
sem mencionar o nome dos responsáveis. A conclusão cita ainda a sigla DSeg, do
Departamento de Segurança Presidencial.
À época,
a secretaria era chefiada pelo general Carlos Feitosa Rodrigues. Ele chegou ao
cargo em 2021, na gestão do bolsonarista Augusto Heleno. Foi mantido no governo
Lula pelo general Gonçalves Dias, ministro do GSI que pediu demissão em abril
após a divulgação de imagens que colocaram em xeque a atuação do órgão durante
o 8 de janeiro.
Como no
caso de Feitosa, a situação se repetia no Departamento de Segurança Presidencial
da secretaria. O diretor, coronel Wanderli Baptista da Silva Junior, também
havia sido nomeado por Heleno e mantido por Gonçalves Dias. Ele ficava
diretamente abaixo de Feitosa na estrutura interna do gabinete.
O
inquérito militar afirma que, no âmbito do GSI, "resta evidente" que
"o planejamento, o acionamento e o emprego" de militares "no
tocante às ações ligadas à manutenção da integridade física do Palácio do
Planalto e adjacências" cabe à secretaria.
O
relatório destaca que, de acordo com o protocolo que define as ações do GSI e
do CMP (Comando Militar do Planalto) na defesa do palácio (chamado de Plano de
Operações Escudo), competia ao DSeg "acionar o deslocamento" da tropa
de choque do Exército.
Também
era obrigação da secretaria "buscar informações indispensáveis ao
planejamento de ações preventivas" junto à Abin (Agência Brasileira de
Inteligência) e aos órgãos da Secretaria da Segurança Pública do Distrito
Federal, o que não foi feito.
No dia 6
de janeiro, uma sexta-feira, o GSI previu situação de "normalidade"
no final de semana. Como mostrou a Folha em abril, a Abin diz que o ex-ministro
do GSI recebeu 11 alertas em seu WhatsApp do dia 6 de janeiro até o início dos
ataques.
A título
de comparação, o inquérito policial militar constatou que o número de militares
no dia 8 de janeiro era menor do que o de 31 de julho do ano passado, quando
Jair Bolsonaro (PL) convocou manifestantes contra o STF.
Na
ocasião, a segurança do Planalto havia sido reforçada por 110 militares —o
equivalente a uma subunidade ou três pelotões. No dia 8 de janeiro, o Comando
Militar do Planalto enviou apenas um pelotão (36 homens) por volta das 12h.
"Desta
forma, é possível concluir que, sendo realizado um planejamento das ações de
segurança adequado, com o acionamento de valor de tropa suficiente, a execução
das ações de segurança por parte das tropas do CMP teria melhores condições de
êxito", diz.
"Nesse
sentido, a invasão ao Palácio do Planalto poderia ter sido evitada ou
minimizado os danos patrimoniais sofridos", completa.
O
inquérito militar afirma que, devido à falta de planejamento, as tropas em
campo não tinham condições de reagir à investida golpista. Por isso, diz que
"não foram encontrados indícios de crime militar ou crime comum na atuação
das tropas".
"Devido
a uma previsão de ‘normalidade’ por parte daquele órgão [Secretaria
Presidencial] —que não se verificou na realidade—, o efetivo solicitado ao CMP
e empregado foi abaixo do necessário diante do grande número de invasores e do
comportamento agressivo dos mesmos."
"Noutro
vértice, conclui-se que há indícios de responsabilidade da Secretaria de
Segurança e Coordenação Presidencial/Dseg quanto à invasão do Palácio do
Planalto, considerando que houve falha no planejamento e na execução das
ações", aponta o inquérito militar.
Imagens
do circuito interno de câmeras do Palácio do Planalto durante a invasão
mostraram não só o baixo número de homens no local, mas também falta de
comando. A entrada principal do prédio ficou desguarnecida por cerca de 45
minutos.
O
inquérito foi aberto em 11 de janeiro para averiguar a atuação da tropa do
Comando Militar do Planalto. A investigação foi conduzida pelo coronel Roberto
Jullian da Silva Graça, hoje chefe do Estado-Maior do CMP.
O
inquérito policial militar é uma investigação pré-processual elaborada pelos
próprios militares para avaliar se há indícios de crime militar e quais os
possíveis responsáveis. Feitosa nem sequer foi ouvido durante a apuração.
O
documento foi enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal
Federal). Em fevereiro, ele decidiu que os militares envolvidos no 8 de janeiro
serão processados e julgados pelo próprio tribunal.
O
ministro também determinou que a Polícia Federal abrisse um inquérito para
investigar os militares das Forças Armadas e da Polícia Militar do Distrito
Federal. A PF, portanto, pode chegar a conclusão diferente da apontada no inquérito
militar.
Exército
não se manifesta sobre investigação
Questionado
pela Folha, o Exército não explicou por que o general Feitosa não foi ouvido no
inquérito. A instituição afirmou que os esclarecimentos sobre o 8 de janeiro
serão prestados "exclusivamente" aos órgãos competentes.
"O
Exército não se manifesta no transcurso de processos de investigação. Cabe
destacar que esse é o procedimento que tem pautado a relação de respeito do
Exército Brasileiro com as demais instituições da República", disse.
O GSI
afirmou em nota que "desconhece as conclusões da apuração do Inquérito
Policial Militar instaurado no âmbito do Comando Militar do Planalto, ao qual
não teve acesso".
A Folha
não conseguiu contato com o general Feitosa e o coronel Wanderli. A defesa do
general Gonçalves Dias foi procurada, mas não se manifestou.
O
inquérito policial militar também levanta as falhas da Secretaria de Segurança
Pública do Governo do Distrito Federal —embora a pasta não tenha sido foco da
investigação nem apareça nas conclusões.
O
documento ressalta que o GSI e o CMP não foram chamados para a reunião
organizada pela Secretaria em 6 de janeiro, dois dias antes do ataque, nem
"comunicados de suas decisões ou relatórios de inteligência".
Diante do
risco de invasão das sedes dos três Poderes, o Governo do DF elaborou um
protocolo de ações integradas em que definia o que cada órgão responsável pela
segurança da Esplanada dos Ministérios deveria fazer no dia.
O
inquérito afirma ainda que a PM-DF —de acordo com o próprio protocolo de ações—
deveria ter impedido a chegada dos manifestantes até a praça dos Três Poderes,
o que não ocorreu.
Outro
argumento usado na defesa dos militares é o de que "a única
informação" enviada pela Polícia Militar foi a de que as manifestações
teriam "animosidade baixa", com "até duas mil pessoas".
O
relatório também minimiza a atuação do Exército no acampamento golpista montado
em frente ao quartel-general, em Brasília.
O
inquérito afirma que a área foi ocupada a partir de 30 de outubro "de
forma intensa, porém pacífica" e que houve "redução gradual no número
de manifestantes" a partir de 15 de novembro "em razão da postura
restritiva" do Comando Militar do Planalto.
O
documento também diz que, diferentemente da "postura restritiva"
adotada pelo CMP, "o Governo do Distrito Federal autorizou que os
manifestantes realizassem seu desembarque" no Setor Militar Urbano, onde
fica o quartel.
FONTE: Folha / terrabrasilnoticias.com
ATENÇÃO:Os comentários postados abaixo representam a opinião do leitor e não necessariamente do nosso site. Toda responsabilidade das mensagens é do autor da postagem.