(Foto: Jornal Folha da Cidade)
Outra coisa importante sobre essa nomeação de Moro é que ela
revela uma qualidade enorme do próprio Bolsonaro que está passando
desapercebida.
César Maia alertou para o risco de indicar alguém que você
não possa demitir -- uma observação tão certeira quanto reveladora de uma
cultura problemática.
César Maia está certo no seguinte sentido: Moro, tanto por
sua história como por vir de fora da política, tem uma reputação ainda mais
forte do que o próprio Bolsonaro em termos de respeito às instituições e luta
contra a corrupção. Portanto, embora Bolsonaro seja o chefe, Moro tem tanto
capital social que não pode ser demitido facilmente.
Por isso, ao nomeá-lo, Bolsonaro diminuiu o próprio poder:
ele colocou deliberadamente no governo alguém que ele não pode controlar.
Em termos de pura estratégia pessoal, seria uma decisão
equivocada. Porém, em termos do que é melhor para o país, é algo certíssimo: é
como se Bolsonaro estivesse amarrando o próprio governo ao combate a corrução.
Ele está se diminuindo para que sua equipe possa subir mais alto.
E aí volto ao problema da cultura brasileira que,
infelizmente, incentiva exatamente o contrário: o rapaz estudioso é objetivo de
piada, a moça competente não é contratada porque a vaga vai para um puxa-saco.
Como o Eduardo Levy comentou mais cedo, há uma dose imensa de pose na cultura
brasileira: as pessoas "importantes" mostram sua importância no modo
de se vestir, na linguagem utilizada, na repetição das opiniões chiques e nas
frases de efeito -- e raramente por meio de alguma competência específica.
Essa falta de competência gera líderes fracos, inseguros,
que precisam sempre recrutar pessoas que estejam abaixo de si próprios. Elas
não percebem que o bom líder é justamente quem sabe escolher e motivar pessoas
com talentos complementares: o bom líder é o centro de aglutinação de pessoas
de alto nível, capazes de superar o próprio líder nos seus respectivos campos
de atuação.
E é exatamente isso que estou começando a enxergar em Bolsonaro. Ele fez
algo muito parecido ao convidar o General Heleno e Paulo Guedes. O primeiro tem
muito mais experiência militar e administrativa do que ele, enquanto o segundo
tem muito mais conhecimento de economia. Em vez de ficar intimidado, ele
adicionou outro peso-pesado à sua equipe: um cara com uma excelente reputação e
ampla experiência no combate à corrupção.
Se esse padrão continuar, o país irá recuperar muito do
terreno que foi perdido nos últimos anos.
Lucas Mafaldo